Pastores: Executivos ou Operários Rurais?
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Foto: sxc.hu |
Acabo de
comprar uma revista Cristianismo Hoje, que ainda vou ler para não influenciar a
opinião deste artigo, onde estampa-se a seguinte manchete “Pastores Feridos. Porque
cada vez mais líderes estão abandonando o ministério?” Vamos usar a pergunta da
manchete para avaliar a situação a partir da própria manchete sem ler, ainda, a
matéria. Depois de ler a matéria publico outra postagem, mas por hora a
manchete nos basta para refletir.
Penso que uma
das respostas para o abandono do ministério está na própria pergunta, isto é,
os pastores se consideram líderes. Existem pastores que andam com seguranças armados,
pois são estrelas gospel; também alguns pastores julgam que por ser presidentes
da igreja devem receber salários maiores do que outros pastores que denominam
de auxiliares. Em um caso verificável na cidade de Niterói, houve época, em que
o pastor presidente de uma igreja da região ganhava até 30 vezes mais que
alguns pastores auxiliares ou dirigentes de ministério. Podemos lembrar também
dos gabinetes fechados com fila para atendimento agendada pela secretária para
uma conversa rápida e prática, bem à moda executivo, de menos de 10 minutos
para os pobres. Claro que os mais abastados poderiam gastar algumas horas de
aconselhamento, infelizmente. Além de seguranças armados, carro blindado,
talvez, tais pastores têm também seu banheiro particular onde podem esconder
sua humanidade, que seria um escândalo descobrir, afinal ela se manifesta no
escremento que é igual para todos.
Enfim, temos
pastores ou temos líderes? O preço da liderança é alto, para a igreja que se torna objeto e para o sujeito que perde
sua humanidade tornando-se um manequim dos anseios daqueles que desejam um líder
“com pose de pastor”. Pior, muitos pastores anseiam por isso, basta frequentar
algumas reuniões de associações de igreja para verificar o excesso de retórica
e ausência de argumentos. A liderança inspira inveja, e o pastor que adota o
maniqueismo do executivo, mesmo que bem intencionado, alimenta e retroalimenta
essa situação depredatória vindo a sofrer e fazer outros sofrerem.
Mas alguém
diria: “Ah, os líderes são absolutamente necessários! Não se pode ir contra a
liderança de um servo de Deus!”, pera aí, vamos por partes. Aqueles que usam
este argumento usam o exemplo do povo de Israel desobedecendo a Moisés e
recebendo a repreensão de Deus. Dizem que assim como Moisés eles devem ser
respeitados pois “ai daquele que toca no ungido de Deus”. Obviamente esquecem
que, em Cristo, todos nós somos ungidos de Deus e não somente o presidente
estatutário.
É interessante
notar que Moisés não era bem um líder no conceito do termo, ele não conseguia
convencer ou motivar ninguém a nada. As oposições a Moisés provam que não era o
chefe daquele povo mas que era servo de Deus, apenas um servo que pastoreava o
povo, mesmo que rebelde, obedecendo a Palavra de Deus.
Esse é o
problema dos pastores de hoje: olham para Moisés ou para outro personagem bíblico
e vêm um líder e não um servo. Não conseguimos reconhecer o que é ser servo
pois estamos contaminados com ideias administrativas empresariais que não
servem para a igreja, quer dizer, para as verdadeiras igrejas de Cristo.
Estamos também contaminados por nosso padrão cultural de domínio onde desde
Portugal medieval até o coronelismo no Brasil, não bastava ser digno tinha-se
que comprar um titulo de dignidade, um título de nobreza. Queremos também que a
igreja sustente toda nossa família quase que em sucessão hereditária assim como
o Estado e a Igreja Católica sustentaram históricamente muitas famílias
importantes, ou tradicionais.
Um verdadeiro
servo não está preocupado com títulos de nobreza, isso pouco importa para ele.
O importante é servir ao Senhor, que não é o presidente da igreja, mas Deus
Todo Poderoso. O verdadeiro servo dorme no capim com as ovelhas e anda junto
delas, seu banheiro também é ao ar livre, tudo é compartilhado pois todos se
igualam em servir ao mesmo Senhor. Pastor não deve ser comparado como executivo
mas como operário rural, entretanto, sem as explorações dos falsos irmãos.
Imagine esta
figura: um pastor de ovelhas (animais mesmo) é contratado para pastorear. Ele
aceita o trabalho mas quer fazer do seu jeito. Monta um escritório e começa a
dar ordens aos outros pastores e mandar recados para as ovelhas. O que os
outros pastores pensarão? Ora, que este pastor burocrático é o dono, que é ele
quem manda. Mas um dia o dono da ovelhas volta, vê a situação e manda o folgado
fazer o seu serviço junto com os outros. O que acontece? O burocrata fica
infeliz, mas aí já é tarde demais pois o dono do rebanho voltou.
Quero deixar
um apelo aos crentes: não procurem mais executivos para a presidência de suas
igrejas. Procurem pastores, até mais de um, pois pastores andam em grupo e
recebem o mesmo salário.
Deixo também
um apelo aos pastores: não se encantem com os padrões do mundo, não pensem e
saiam pregando que são líderes do rebanho, pois a heresia da doutrina da prosperidade
neopentecostal começou aí. Sejam servos e não executivos! Sejam pastores e não
super-homens!
http://www.abibliaevoce.com.br/
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