Prova de Ministério
De vez em quando ouço este termo, "prova de ministério", referindo-se a
pastores que passam por dificuldades variadas. Isso chega a ser quase
uma "doutrina" no estudo do ministério pastoral, porém penso que tal
termo não tem base bíblica mas sim corporativa.
Quando a Bíblia fala de provação, especialmente no Novo Testamento,
refere-se a todos os cristãos. A provação é implícita na vida espiritual
de qualquer cristão que deseja ser fiel a Deus, afinal, o Diabo não
gosta de crentes fieis. O termo "tentação" é geralmente referido a um
universo comum de cristãos e não a uma classe de cristãos como pastores
ou diáconos especificamente.
Talvez alguém faça analogia com a tentação de Jesus no deserto, por
Satanás, mas lá ele não representava pastores mas venceu a tentação no
lugar de todos os salvos também. Poderia estender uma lista de
versículos sobre o assunto e não encontraríamos nenhum que trate de uma
prova especial para vocacionados, como se fossemos seres especiais e
mais ungidos que os outros crentes. Ah, se alguém achar um versículo de
prova me avise.
Assumindo que tal afirmação é verdadeira, "não existe categoria de
crente com tentação especial", entendemos que advogar ser tentado de
maneira singular é um tipo de orgulho de classe. Realmente, alguns
vocacionados pensam que têm uma vida "mais santa" do que os outros
crentes, mas isso é pura vaidade. Devemos fugir disso, entender que
somos crentes como qualquer outro, e buscar viver como um crente deve
viver e não "como um líder deve viver".
Estabelecer um padrão mais elevado para um grupo, além de vaidade,
conduz os outros cristãos ao comodismo. "Ah, eu não sou pastor porque
tenho muitos defeitos", dizem alguns, e eu pergunto qual é o pastor que
não tem defeito? Se você pensa que o seu não tem está enganado, talvez
até o defeito dele seja mais grave que o seu. Afinal, não é por obras
que nos aproximamos de Deus mas pela fé.
Evitando a vaidade e o comodismo eliminamos o corporativismo pastoral. É
fácil se encantar pela atmosfera de autoridade santa, inquestionável
até, que a ordenação traz para muitos. Difícil é sair desse encanto, do
gabinete encerado e cheiroso, para pegar carrapicho junto com as ovelhas
e limpar a nossa própria lã das adversidades da vida. Precisamos ser
menos corporativistas e mais pastores.
Lembremos do elogia à igreja em Éfeso "Conheço as tuas obras, tanto o
teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus,
e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não
são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança, e suportaste provas
por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer" (Apocalipse 2.2-3)
Observe que os efésios suportaram provas por amor a Jesus e que eles
mesmos provaram alguns líderes vaidosos. Talvez a única provação de
ministério que encontremos na Bíblia seja a provação pela própria
igreja, e ela deve provar seus pastores para aprová-los, mas tem muito
pastor que não gostaria desse discurso.
Vale lembrar que a igreja de Éfeso também foi admoestada "Tenho, porém,
contra ti que abandonaste o teu primeiro amor" (Apocalipse 2.4), talvez
porque provasse tanto seus pastores, ou pretensos apóstolos, que já
desanimava vendo a vaidade deles. Temos aí dois extremos a vaidade e o
policiamento. Os pastores devem ser provados pela igreja na verificação
de sua doutrina e fé bíblica, mas não devem ser policiados assim como os
pastores não devem policiar nenhum irmão mas aconselhar, guiar, cuidar.
Fica uma exortação para nós: tomemos cuidado com a vaidade que nos tenta
a todos e com o policiamento farisaico que afastam o sentido de igreja
do coração dos homens levando-os ao esfriamento e pecado, tenha ele
vocação pastoral ou qualquer outra vocação pois "todos somos
vocacionados". o resto do post
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